sábado, 30 de abril de 2011

Poema à mãe que dedico a todas as mães

No mais fundo de ti,
eu sei que te traí,mãe.

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa:
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me?-
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda ouço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal....

Mas - tu sabes - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu.

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ervilhas com paio e entrecosto fumado



Estamos no tempo das ervilhas. Como diz o ditado popular «Maio as traz, Maio as leva».



Ao contrário do que parece, dão muito trabalho a apanhar e as «cruzes» começam a queixar-se...



Mas como não gosto de estragar nada, fiz o sacrifício de andar duas horas a apanhá-las. Depois congelei algumas e com as que sobraram fiz um belo prato com paio e entrecosto. Mais uma vez fui reler Eça de Queirós...



«De repente Carlos teve um largo gesto de contrariedade:



- Que ferro! E eu que vinha desde Paris com este apetite! Esqueci-me de mandar fazer hoje, para o jantar, um grande prato de paio com ervilhas.» Os Maias






quinta-feira, 28 de abril de 2011

Favas à maneira de Eça de Queirós « A cidade e as serras»





Noutros tempos detestava favas e rezava para que elas acabassem depressa. «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades» e hoje sou grande apreciadora de favas. Estamos no tempo delas e a produção tem sido satisfatória. Umas são congeladas e outras vão sendo cozinhadas de várias maneiras. Lembrei-me do Jacinto, personagem de «A cidade e as serras»que ficou maravilhado com as favas que comeu na sua quinta de Tormes. Tentei encontrar a receita e o resultado foi muito bom, todavia não sei se estavam tão deliciosas como as que Jacinto comeu....

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Carta do chefe Seattle ao presidente Franklin Pierce


De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra. Disso temos a certeza. (...) Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra.

Onde está o matagal? Destruído.

Onde está a água? A desaparecer.

Este é o fim da vida e o começo da luta pela sobrevivência.


Apesar de ter sido escrita em 1854, a mensagem da carta é, infelizmente, actual.

domingo, 10 de abril de 2011

Joaninhas


Acho as joaninhas uns pequenos animais muito engraçados. Hoje as plantas estavam cheias delas.

Quando era criança brincava muito no campo e quando apanhava uma joaninha dizia qualquer coisa como isto: Joaninha, voa, voa, vai levar esta carta a Lisboa. Vou partilhar convosco uma foto que acho muito bonita.

O ramalhete rubro das papoulas


Hoje de manhã, por volta das 10h, fui à horta para ver se a rega automática que tínhamos posto ontem estava a funcionar. A manhã estava calma, o clima ameno, e a natureza respirava tranquila. Eis que vejo umas papoilas que me fizeram lembrar um bonito poema de Cesário Verde, poeta do campo que andava preso em liberdade pela cidade.


Naquele pic-nic de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter histórias nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.


Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o Sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão-de-ló molhado em malvasia.


Mas, todo púrpuro a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas!


sábado, 9 de abril de 2011

Bucólica


A vida é feita de nadas:

De grandes serras paradas

À espera de movimento;

De searas onduladas

Pelo vento;


De casas de moradia

Caíadas e com sinais

De ninhos que outrora havia

Nos beirais;


De poeira;

De sombra de uma figueira;

De ver esta maravilha:

Meu pai a erguer uma videira

Como uma mãe que faz a trança à filha.


Miguel Torga

Favas


Apesar das favas ainda estarem atrasadas, apanhámos as vagens mais tenras para fazer esparregado e para fazer favas à moda do Alentejo. Foi em Mértola que as comi assim preparadas e gostei imenso. Para quem quiser experimentar aqui vai a receita: Faz-se um refogado a que se junta entrecosto e chouriço e depois juntam-se as vagens tenrinhas das favas, partidas em bocados não muito pequenos. Deixa-se cozer e quem gostar pode juntar coentros ou outra erva aromática. Já está .É só comer e de preferência acompanhar com vinho tinto.

É uma forma diferente e gostosa de comer favas.

Engraçado, quando era jovem detestava favas, era, talvez, a única coisa que tinha dificuldade em comer. Hoje, muitos anos passados, gosto imenso de as apanhar e comer, mesmo simplesmente cozidas com um dente de alho, uma folha de louro e regadas com um fio de azeite.

Ervihas de quebrar


Hoje andámos toda a tarde na horta. Apanhámos ervilhas de quebrar. Semeei-as por sugestão de uma amiga e fiquei satisfeita com a experiência. São óptimas para acompanhar qualquer prato, seja de peixe seja de carne.

natureza


É sempre agradável descansar à sombra de uma árvore, depois de algumas horas na horta.

Bem vindos ao blog ervilhas & companhia. Espero que gostem de mexer na terra tanto como eu, que redescobri o prazer de olhar para a natureza e ouvir o que ela tem para nos dizer.